Ao
longe vê-se os ombros dele: são musculados e dourados, bem assentes num corpo
esguio e imperfeito que se encontra debaixo de uma camisa de cava. É facilmente
reconhecido pela sua pose descontraída e, no entanto, algo poderosa, como se o
mundo fosse uma rocha e ele fosse o rio que não só segue o seu caminho como também
a erode. Furacões não são nada comparados com ele. Alto e com um je ne sais quois que o torna atraente (e
estando mesmo no inicio do auge da sua juventude), fuma o seu cigarro e bebe o
seu café.
Uma
figura feminina surge no horizonte. É uma jovem petit de feições fortes, tom moreno e algo exótica, alguns diriam,
que é uma conhecida do moço. Surge-lhe um suave, quase impercetível tom rosa nas suas maçãs que a
traem e que denunciam o facto de o ter visto. É que ela, na sua perdida
inocência, apesar de manter uma relação algo amigável com ele, deseja
possui-lo. Deseja possuir-lhe a alma e a mente mas bastava-lhe o corpo. Deseja
possui-lo sem ser possuída. Ah, mas ele não sabe que ela tem pecado a
correr-lhe no sangue. Talvez, em sonhos que esquecera, o pressinta mas se
soubesse… afastar-se-ia de forma cruel.
“Bom
dia!” diz-lhe ansiosamente, com um sorriso semi-automático no rosto. Tamanha ânsia deve-se á vontade de esconder que desejava pegar-lhe na mão e levá-lo
para o seu quarto. De esconder que no seu quarto usaria umas algemas para o
prender á cama, e que iria usar as duas pequenas mãos que tem para o fazer
implorar por misericórdia. Doce, bem-vindo e misericordioso prazer. Quase que
consegue ouvir os gemidos…
“Oh,
olá!” ele responde, no seu habitual tom alegre e aluado.
“Tens
um cigarro para mim?” E tens as mesmas
vontades que eu? Comigo?
“Estou
a fumar o último. Podes sentar-te, mas só se pagares um café.” Responde de
forma desafiadora. Ambos riem-se.
Ela
pede um café para si mesma e fica. Fica a ouvir as histórias dele, mesmo sendo
histórias que preferia não ouvir porque não faz parte delas. Fica na certeza de
que ouvir histórias não faz mal a ninguem. Fica na (in)certeza de que ele não a
deseja mas tal não a incomoda porque desde quando é que desejar sem ser
desejada não é inofensivo? Desejar não é sentir e ela não sente nada por ele
além de desejo. Assim, ninguém se chateia.
Dezembro 2012
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