08 julho, 2012

Morrendo lentamente, cada um á sua maneira.

O vento toca-lhe a pele. A escuridão natural é envolvente e apenas as estrelas iluminam o caminho. Ao longe ouvem-se grilos, talvez o ocasional ladrar distante de um canideo e, sem dúvida, o rastejar de folhas pelo chão.
Á sua frente encontra-se um abismo ondulante de águas enegrecidas pela falta de luz. Esta sombra, completamente despida (seja de medos ou preconceitos, até mesmo de riquezas de qualquer tipo), mergulha no (des)conhecido. Vai até ao fundo e sustém a respiração o máximo de tempo possível. É assolada pelas sensações de frio e completa solidão, exactamente como está habituada. Não há nada á sua volta, não vê nada á sua volta, apenas sente e sente o nada que a rodeia. Deseja morrer, com uma brutalidade surpreendente, mas o instinto de sobrevivência entra em acção e uma cabeça rompe a superfície. Não há nada a fazer, não é desta que o abismo matará um alguém que não é ninguém. Infelizmente. Então sai. Que o vento seque as gotas d'água!
Acende um cigarro, negro como a sua alma, metendo-o á boca como se beijasse suavemente um amante. O fumo queima-lhe as entranhas (Como é que as pessoas gostam disto? pergunta hipocritamente nos seus pensamentos.), de forma familiar e concisa. Observa a pequena porção de tabaco, rodando-a nos dedos. Como se precisasse de mais alguma coisa a queimar-me cá por dentro.
A ondulação chama o seu nome mas por hoje já chega. Está na hora de voltar ao edifício que chama de casa, que também pode ser designado por prisão. Anseia liberdade, anseia por aquilo que outros têm, anseia pela noite seguinte e anseia pelo realizar da promessa de não haver mais vida no seu corpo.

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