Trocámos
aquele último beijo. Dissemos adeus. O segredo deixou de existir. Foi feito o
que era correcto, mesmo que o que fosse correcto não fosse a verdadeira
vontade.
Manter
uma conversa tornou-se desnecessário, e o teu interesse, ainda que já há muito
reduzido, morreu. Amizade? Há quem não tenha direito a isso. Há quem não o
queira. Eu não tenho direito, tu não queres. Lentamente, (in)desejadamente, o
adeus tornou-se real e frequente – pensamentos tornaram-se obsoletos.
Força
de circunstância (porque é ridículo pensar na existência, quanto mais interferência,
do Fado), reuniram-nos brevemente. Eu, de batom vermelho, tu, de camisola
negra. Viste-me, cumprimentaste-me com um “Olá, estás boa?” e eu disse-te “Olá,
está tudo, e contigo?”. Eu, tal boneca de batom vermelho e coração a bater
(como já não batia há muito. Explica-me?), vi-te, indefesa, a ser uma qualquer
outra coisa magnífica, brilhante. Vi-te quando me permiti a mim mesma olhar
para ti, porque mais cedo me obrigava a ignorar-te – reconhecer a tua presença
e não desviar o olhar era sinal de fraqueza.
Todo
o desejo que me obriguei a recusar, voltou. É impossível ser algo mais
emocional, não me deixo a mim mesma senti-lo. Ah, mas talvez minta a mim mesma.
Talvez haja ali algo. Perdoa-me, sei que acordámos a inexistência de
sentimentos, mas eu sou fraca. Eu sou uma traça, tu és uma chama – perdoa-me,
está na minha natureza.
É
isto que eu não quero: coisas fora do meu alcance, fora da minha teimosia, fora
de mim mesma. Não quero suprimir o teu livre-arbítrio, isso seria algo digno de
Deus, e eu sou uma simples Pandora. É por isto que todos os dias me obrigo a
recusar a tua existência.
Não
é isso que quero… quero idas ao cinema e conversas de café; quero saber o que
te faz arder; quero normalidade e não uma relação, não… isto. Não te quero
prender, mas porque é que não queres voar para mim? Porque é que paraste o teu
entusiasmo em relação a mim? Porque paraste as perguntas e desculpas para te
exibires, tamanho miúdo que quer impressionar uma outra miúda? Porque é que paraste de ser tão diferente
apenas para seres igual? Quase que te prefiro confuso a frio… confusão tem
temperatura, sabes?
Não
quero escrever para ti ou sobre ti. Não quero que as memórias dos teus beijos
sejam apenas memórias. Não quero mesmo toda e qualquer distância. Não precisas
de sentir algo, mas gostava que quisesses beber café comigo. Gostava daqueles
momentos em que conversávamos, em que te tornavas humano. E eu também.
(madrugada 20 Outubro 2013)
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