10 junho, 2011

Broken Glass

Todos nós conhecemos a história d’ A Bela e o Monstro, e todos nós sabemos que essa história não é real, que é apenas um conto de fadas. E se eu te dissesse que há uma historia parecida em alguns aspectos? E se eu te dissesse que essa historia é tão real quanto eu, que a estou a escrever, e tão real quanto tu que a estás a ler?

Ela chama-se Sadie, e vive num castelo há muito esquecido. Nesse castelo não há espelhos nem qualquer outra superfície reflectora porque a Sadie vê o seu reflexo e nesse reflexo vê-se uma face composta de pedaços e remendos (sim, ela é feita de remendos e linhas mantém-na inteira como a Sally), mas a Sadie é, supostamente, uma menina “normal”… é uma menina que vai á escola, que escreve, desenha, ouve música e gosta de parar para cheirar as rosas. Ela só o consegue fazer porque usa máscaras (não é só uma, claro, seria estranho andar sempre com a mesma expressão) para esconder o que realmente é, e, por vezes, o que sente. O efeito não é bonito, as máscaras são um pouco velhas que com o tempo vão-se desgastando, e já lhe custa usá-las… mas todos os dias coloca-as, sempre que sai de “casa”.

Devido á sua “condição” Sadie não tem amigos, não exactamente. Uns olham para ela e desprezam-na; outros tentam usá-la para os seus propósitos e alguns conseguem aproveitar-se do seu coração mole; uns quantos dizem mal dela, gozam com ela nas suas costas; as pessoas que ela pode chamar de amigos são apenas uma mão cheia, mais do que suficiente, mas ela não confia em ninguém porque ninguém pode saber do seu segredo. É uma existência solitária, mas ela sabe que se tirar as mascaras que ninguém ficará a seu lado. (Qual é a criança que gosta de brincar com bonecas de porcelana partidas?)

Violinos e violoncelos tocam uma melodia triste na sua cabeça. Uma melodia que lhe diz “não encontrarás o amor”. Mas que sabe ela sobre o amor? Só o que lê nos livros, o que vê nos filmes. Os contos de fadas prometem-lhe um amor mágico e eterno que cura as feridas, que transforma o feio no bonito, mas onde está o seu amor? Onde está o Belo, aquele que se apaixonará por ela e a tornará bonita? Onde está ele, com as promessas de nunca lhe partir o coração, os beijos doces e a visão a cores do mundo? Não sabe, ainda não o encontrou mas mantém a esperança (que pode ela fazer senão manter a esperança?).

Thanatos visita-a todos os dias, e todos os dias traz-lhe promessas de um mundo novo e desconhecido mas cheio de paz. “Tudo o que tens que fazer é dar-me a mão, Sadie, que eu faço o resto. É fácil, não é? Deixa-me dar-te o que queres…” e todos os dias ela resiste á tentação, todos os dias ela diz não, que não pode tomar o caminho mais fácil, que nem tudo o que ela quer é o que precisa. “Não te vás Thanatos, fica mais um pouco. Faz-me companhia. Os teus conselhos são melhores que nenhum, e não me importo de sonhar com a facilidade que prometes.”. Assim, Thanatos faz-lhe companhia, até ela adormecer. Antes de se ir embora coloca um frasco de veneno á cabeceira (ela não sabe que é veneno, Thanatos sempre lhe disse que era um “remédio para a alma”) com o mesmo bilhete com as palavras “Se o abrires estás a chamar-me por isso espera por mim, quero tomar conta de ti. T.”. Ela acorda, vê o frasco e guarda-o… mas até quando ela resistirá?

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